sexta-feira, 24 de abril de 2015

Primeira fotojornalista relata os desafios da profissão ao cobrir a Faixa de Gaza


Eman Mohammed
Crédito:Dennis Rivera




Contar em detalhes uma história escondida. Foi esse desejo que levou Eman Mohammed, 27, a começar sua carreira como fotojornalista, aos 19 anos. Ela é a primeira mulher a cobrir a guerra na Faixa de Gaza. 



Refugiada Palestina, Eman nasceu na Arábia Saudita e cresceu em Gaza, onde iniciou seu contato com a fotografia. Com trabalhos publicados no Guardian, Le Monde, Washington Post, Haartez, e outros veículos internacionais, ela se dedica a documentar de perto o conflito Israel/Palestina.

À IMPRENSA, a fotojornalista falou sobre os desafios que as mulheres enfrentam no Oriente Médio, as dificuldades em cobrir zonas de conflito e como avalia a cobertura da mídia internacional na região.

IMPRENSA: Quando você decidiu se dedicar ao fotojornalismo?
Eman Mohammed: Eu comecei a me interessar pela carreira de fotojornalista aos 19, durante meu segundo ano na universidade, quando passei a trabalhar para agências de notícias locais e explorar os campos de mídia.

Como é ser a primeira mulher fotojornalista a cobrir a Faixa de Gaza?
O sentimento é amargo e doce ao mesmo tempo. Num primeiro momento não fazia qualquer sentido o porquê eu tinha de ser a primeira. E não ver fotojornalistas profissionais do sexo feminino em Gaza, diz muito sobre esta questão.

Foi um percurso muito instável, cheio de obstáculos e desafios pela predominância masculina no campo do fotojornalismo. Mas a aceitação e apoio de moradores me fizeram sentir muito melhor e mais confortável. Equilibrar-se em uma comunidade fechada e conservadora seguindo numa carreira controversa às tradições foi e ainda é muito complicado.

Seu trabalho como fotógrafa era considerado um insulto às tradições locais. Como lidou com o preconceito e o que significa para você passar por isso?
As pessoas normalmente temem o que elas não conhecem e, como uma reação muito esperada, a comunidade não foi apresentada a uma fotojornalista mulher até então. Uma vez que foi explicado e mostrei o meu modo de trabalho, sem ter violado nenhum valor cultural, tornou-se mais aceitável para as pessoas comuns. Eu lutava mais com os meus colegas do sexo masculino, que recusavam o fato de ter uma fotojornalista entre eles e ainda o fazem, de maneira mais sutil do que quando comecei a minha carreira. Ao longo do tempo, esse desafio aquece o meu coração e me mantém alerta no mesmo tempo.

Qual é o espaço para as mulheres cobrirem zonas de conflito atualmente?
Eu acho que o número de fotojornalistas no mundo aumentou rapidamente e isso é um grande começo para uma maior igualdade, especificamente nas áreas de conflito, onde as mulheres provaram que elas são capazes de fazer um trabalho realmente impressionante por conta própria. Os limites não são um problema como antes. Ainda temos um longo caminho pela frente para chegar ao ponto de não precisar "provar" que as mulheres são qualificadas nessas zonas tanto quanto os homens.

Quais são os maiores desafios de ser fotojornalista na Faixa de Gaza?
Cobrir notícias de natureza violenta, e estar ao mesmo tempo em uma situação para quebrar tabus. É como uma guerra fora e dentro da minha casa, a pressão dobra e torna-se uma missão impossível, às vezes.

Como você avalia a cobertura da imprensa internacional sobre a guerra em Gaza?
Mudou dramaticamente desde a primeira guerra em Gaza, o que com certeza ajudou o mundo a ter mais conhecimento sobre o que está acontecendo na Palestina com as suas próprias fontes. O que é mais assustador é que não teve um grande impacto sobre a ação do mundo. Agora a mídia está mais carregada com todo o tipo de fotografias e vídeos que saem de Gaza e, assim como na Síria, o mundo está perto e apenas assiste. 

Há alguma história que te surpreendeu ao longo da sua carreira?
Eu diria que a primeira guerra sempre ficará na memória, marcada no meu coração. O dia em que tudo começou e eu testemunhei o meu mundo inteiro em colapso, o que se seguiu ajudou a moldar a minha carreira e personalidade ao mesmo tempo.

Raio-X do conflito  

Localizada na Palestina, entre Israel e o Egito, a Faixa de Gaza era o ponto de passagem para antigas civilizações e um entreposto estratégico no Mediterrâneo. Foi dominada pelo Império Otomano até a Primeira Guerra Mundial. Tanto os israelenses quanto os palestinos acreditam que Gaza pertence a eles, o que faz com que os conflitos nunca cessem. 

Os israelenses acreditam que a região é dominada por invasores que fugiram de outras terras. Por sua vez, os palestinos nunca tiveram, de fato, um território. Por se concentrarem em Gaza quando eram refugiados, eles acreditam que a região já os pertence.  
O confronto religioso é outro aliado. A Faixa de Gaza integra o território conhecido como Terra Prometida. Ambos os povos acreditam que o local é sagrado e não deve ser habitado por pessoas que não possuem a mesma crença.

Em julho de 2014, Israel lançou uma grande operação militar na Faixa de Gaza chamada "Borda de Proteção", com o objetivo de interromper o lançamento de foguetes palestinos contra Israel e de destruir a infraestrutura militar do Hamas e de outros grupos armados.

A ação marcou o fim do cessar-fogo que estava em vigor desde novembro de 2012, mas que era desobedecido desde dezembro do ano passado. O novo conflito deixou quase 2.200 palestinos mortos, em sua maioria civis.

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